O Banqueiro Anarquista / Fernando Pessoa

Me encantaría ser capaz de escribir esta entrada en perfecto portugués, pero paso. Pa qué, ¿pa cagal’la?, que dice el chiste. A ver, poder, se puede. Pero me llevaría tiempo. Y pa una vez que me pongo, casi que mejor lo hago del tirón (foto, transcripción y comentario).

Oigan, que es que estoy aprendiendo portugués, así, en plan autodidacta. Hay que decir que lo de saber gallego ayuda de la ostia. jajaja. Las circunstancias me incitan a aprenderlo.
Y así aprovecho y leo en otros idiomas.

El amigo Pessoa. Promete. ¡Mucho! . Su nombre es fácil encontrárselo de repente: novelas, artículos, entrevistas… le mentan bastante. Ahora comprendo el porqué.
Les pedí a unos amigos que me trajeran algún librito de poesía en un viaje que hicieron a Oporto (y así matar dos pájaros de un tiro: leer poesía y otra lengua, que lo tengo como deberes).. y bueno, me trajeron éste, que es como un cuento corto. La edición me encanta. La portada ES INCREÍBLE. Pero pa mí que la imagen del señor con el gorro es de la propia editorial. Habla de la literatura portuguesa.

Y el contenido: me ha encantado. Este, en vez de recomendarlo al final, lo hago al principio, por si os perdéis en mitad de la lectura y no lo llegáis a ver.

El título es muy representativo. Va de eso, de un banquero anarquista (banquero, que no bancario). No cuenta una historia, bueno, sí, la historia de su evolución ideológica. Así se presenta, como banquero anarquista. Y el otro personaje, un caballero que aporta el contrapunto a sus argumentos mientras el banquero anarquista habla y fuma.
Lo primero que diríamos todos: ¿cómo un banquero puede ser anarquista?. Pues sí. Se puede, y este señor es la prueba viviente. Al menos si se sigue su línea de razonamiento que, apararentemente, acompaña de una lógica aplastante.

He dudado sobre cómo escribir el comentario al libro, el hecho de poner fragmentos va desvelando los argumentos del banquero, que creo que es, al fin y al cabo, la clave del libro. A eso ahora le llaman «spoiler» ¿no?, recuerdo que antiguamente se le llamaba «joder-el-final-del-libro/peli«. Así que, avisado queda, vosotros veréis cuántos fragmentos os queréis leer y hasta qué punto del razonamiento queréis llegar. Aún así, lo complico un poco dejándolo en portugués. Pero um pouco, não mais.

Puedo decir que el banquero anarquista tiene en cuenta aspectos como que:

  • el verdadero problema de la «opresión» ante la diferencia de clases se debe a las relaciones entre los individuos, no a los propios individuos o a la estructura de la sociedad implantada.
  • los hombres en grupo (viene de fábrica) se posicionan: o bien organizando o bien esperando/acatando directrices.
  • pasa de la violencia física.

Basándose en eso y en la experiencia de los años como «anarquista» rodeado de más «anarquistas», por deducción, acaba demostrando que él es anarquista.
Todo un juego de lógica.

*****************************************************************************

«Um nasce conde ou marquês, e tem por isso a consideração de toda a gente, faça ele o que fizer; outro nasce assim como eu, e tem que andar direitinho como um prumo para ser ao menos tratado como gente»

«A gente nasce homem ou mulher – quero dizer,nasce para ser, em adulto, homem ou mulher; não nasce, em boa justiça natural, nem para ser marido, nem para ser rico ou pobre, como também não nasce para ser católico ou protestante, ou português ou inglês

«Qual é a ficção mais natural? Nenhuma é natural em si, porque é ficção; a mais natural, neste nosso caso, será aquela que pareça mais natural, que se sinta como mais natural? É aquela que estamos habituados. (V. compreende: o que é natural é o que é do instinto; e o que não sendo instinto, se parece em tudo com o instinto é o hábito. Fumar não é natural, não é uma necessidade do instinto, mas, se nos habituamos a fumar, passa a ser-nos natural, passa a ser sentido como uma necessidade do instinto).»

«O que quer o anarquista? Liberdade – a liberdade para si e para os outros, para a humanidade inteira. Quer estar livre da influência ou da pressão das ficções sociais; quer ser livre tal qual nasceu e pareceu no mundo, que é como em justiça deve ser; e quer essa liberdade para si e para todos os mais. Nem todos podem ser iguais perante a Natureza: uns nascem altos, outros baixos; uns fortes, outros fracos; uns mais inteligentes, outros menos… Mas todos podem ser iguais de aí em diante; só as ficções sociais o evitam. Essas ficções sociais é que era preciso destruir.»

«Veja agora bem o que isto representa… Um grupo pequeno, de gente sincera garanto-lhe que era sincera!), estabelecido e unido expressamente para trabalhar pela causa da liberdade, tinha, no fim de uns meses, conseguido só uma coisa de positivo e concreto – a criação entre si de tirania. E repare que tirania… Não era uma tirania derivada da ação das ficções sociais, que, embora lamentável, seria desculpável, até certo ponto, ainda que menos em nós, que combatíamos essas ficções, que em outras pessoas; mas enfim, vivíamos em meio de uma sociedade baseada nessas ficções e não era inteiramente culpa nossa se não pudéssemos de todo fugir à sua ação. Mas não era isso. Os que mandavam nos outros, ou os levavam para onde queriam, não faziam isso pela força do dinheiro, ou da posição social, ou de qualquer autoridade de natureza fictícia, que se arrogassem; faziam-no por uma ação de qualquer espécie fora das ficções sociais, uma tirania nova. E era uma tirania exercida sobre gente essencialmente oprimida já pelas fficções sociais. Era, ainda por cima, tirania exercida entre si por gente cujo intuido sincero não era senão destruir tirania e criar liberdade

«Temos, pois, que uma coisa é evidente… No estado social presente não é possível um grupo de homens, por bem intencionados que estejam todos, por preocupados que estejam todos só em combater as ficções sociais e em trabalhar pela liberdade, trabalharem juntos sem que espontaneamente criem entre si tirania, sem criar entre si uma tirania nova, suplementar à das ficções sociais, sem destruir na prática tudo quanto querem na teoria, sem involutariamente estorvar o mais possível o próprio intuito que querem promover. O que há a fazer? É muito simples… É trabalharmos todos para o mesmo fim, mas separados.«

«Trabalhando assim separados e para o mesmo fim anarquista, temos as duas vontades – a do esforço, e a da não criação de tirania nova. Continuamos unidos, porque o estamos moralmente e trabalhamos do mesmo modo para o mesmo fim; continuamos anarquistas, porque cada um trabalha para a sociedade livre; mas deixamos de ser traidores, voluntários ou involuntários, à nossa cousa, deixamos mesmo de poder sê-lo, porque nos colocamos, pelo trabalho anarquista isolado, fora da influência deletéria das ficções sociais, no seu reflexo hereditário sobre as qualidades que a Natureza deu.»

«O que há de mau nas ficções sociais são elas, no seu conjunto, e não os indivíduos que as representam senão por serem representantes delas.»

«-Ora V. criou tirania V. como açambarcador, como banqueiro, como financeiro sem escrúpulos – V. desculpe, mas V. é que disse -, V. criou tirania. V. criou tanta tirania como qualquer outro representante das ficções sociais, que V. diz que combate.
Não, meu velho, V. engana-se. Eu não criei tirania. A tirania, que pode ter resultado da minha ação de combate contra as ficções sociais, é uma tirania que não parte de mim, que portanto eu não criei; está nas ficções sociais, eu não ajuntei a elas. Essa tirania é a própria tirania das ficções sociais; e eu não podia, nem me propus, destruir as ficções sociais. Pela centésima vez lhe repito: só a revolução social pode destruir as ficções sociais (…) Não é de não criar tirania que se trata: é de não criar tirania nova, tirania onde não estava. Os anarquistas, trabalhando em conjunto, influenciando-se uns aos outros como eu lhe disse, criam entre si, fora e à parte das ficções sociais, uma tirania; essa é que é uma tirania nova. Essa, eu não a criei. Não a podia mesmo criar, pelas próprias condições do meu processo. Não, meu amigo; eu só criei liberdade. Libertei um. Libertei-me a mim. É que o meu processo, que é, como lhe provei, o único verdadeiro processo anarquista, me não permitiu libertar mais. O que pude libertar, libertei

4 comentarios en «O Banqueiro Anarquista / Fernando Pessoa»

  1. Gostei muito do seu post, Katrina. Pessoa tem um maravilhoso poema que adoro: Tabacaria (podesse achar em google).

    Boas festas, fique bem 😉

    Beijos!

Deja una respuesta

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *